sábado, 24 de dezembro de 2011

Um Presente de Natal - 7º Capitulo

Acha que vamos ficar presos por causa da Chuva? — perguntou Leonardo, vendo as gotas baterem contra a janela da cozinha.
   Como Fernando previra, a chuva da noite anterior transformara-se numa forte tempestade, que já tomava quase trinta centímetros da  porta dos fundos e enchia o jardim.  O vento parará pouco  antes do meio-dia, mas a chuva continuara a cair, lenta e incessante, cobrindo tudo de cinza.
   Marta  lançou-lhe um olhar preocupado.
   — Odeio ter de lhe dizer isso, mas já estamos presos. Nossos carros não conseguirão atravessar a rodovia com um tempo desses.
   Leonardo assentiu, com um movimento de cabeça. Suas piores suspeitas confirmavam-se.
   — Outro dia mesmo pensei em colocar tração nas quatro rodas. Acho que isso faria meu carro andar na chuva forte. — Acompanhou Marta até a porta da frente. — Sinto muito não poder ajudá-la.
   A velha senhora fora  usar  o telefone, pois a tempestade cortara-lhe a linha. Mas os dois acabaram descobrindo que o de Leonardo também estava mudo.
   — Não  se preocupe. Daqui a dois dias, tudo voltará ao normal. — Parou para examinar o filodendro. — Essa  planta é muito bonita, querido.
   Leonardo franziu a testa.
   — O interessante é que ela estava morrendo. Então, há cerca de duas semanas, parece ter revivido. — Abriu a porta, ajudando Marta a vestir o xale.  — Tem certeza de que não quer ficar para o jantar? Fiz um caldeirão enorme de sopa de legumes.
   — Não, querido, obrigado. Deixei duas tortas de frango no forno, e elas estarão prontas daqui a alguns minutos. — Atravessou a área que separava as casas e, já dentro do terraço, virou-se e gritou: — Suas luminárias são lindas!
   Leonardo agradeceu o elogio com um aceno.  Ele  mesmo as preparara, com velas protegidas por sacos de papel impermeável marrom. A luz suave alinhava-se à entrada da garagem e descia em direção à estrada.
   Orgulhoso do trabalho, ele entrou. Na cozinha, ergueu a tampa do caldeirão onde estava a sopa e examinou o conteúdo sem nenhum interesse ou apetite. Tapou-o novamente e apagou o fogo. Uma olhada na geladeira mostrou-lhe que ali não havia espaço nem para uma laranja. Mas  alguns minutos de arrumação providenciaram um espaço para a  sopa.
   Depois foi até a sala de estar e  sentou-se, admirando as luzes coloridas e a decoração da árvore. Lágrimas começaram a sair de seus olhos. Por mais que tentasse, não conseguia ignorar  a verdade: era Natal, e ele estava sozinho.
   Tamale pulou para o sofá e aconchegou-se no colo do dono, como que oferecendo uma solidariedade silenciosa. As lágrimas tornaram-se ainda mais intensas. Leonardo passara o último mês fazendo uma série de coisas, além de trabalhar. Mudara de casa, embrulhara presentes para os órfãos da cidade, preparara todas as receitas de época que encontrara em seu fichário.
Tudo para preencher o vazio da  solidão.  Naquela  noite, planejara ir à missa e acabara até comprando as luminárias. Procurou manter-se ocupado para não pensar em quanto sentia falta de Victoria. Não funcionara.
   Dando-lhe um olhar desgostoso, Tamale pulou para o chão e foi acomodar-se no tapete  felpudo em frente à estufa. Leonardo então pegou uma das almofadas espalhadas pelo sofá e apertou-a com força,  como se até elas pudessem abandoná-lo.
   Finalmente, o pranto foi cessando. Leonardo soltou a almofada e deu um suspiro profundo, limpando as faces úmidas com as palmas das mãos. Devia ter-se permitido chorar semanas atrás, pensou enquanto saía do sofá e dirigia-se  ao banheiro. Mas tudo o que fizera fora engolir as lágrimas sempre que se lembrava de Victoria.
   Abriu a torneira, molhou uma toalha na água fria e apertou-o contra o rosto. Não devia ficar tão triste. A filha estaria  ali em dois meses. Passar o Natal fora de casa,  afinal, não era nenhuma tragédia. Mais do que isso, era inevitável que, mais cedo ou mais tarde, pai e filha se separassem. Haviam comemorado juntos vinte e quatro finais de ano.  E teriam vários outros pela frente.
   Tirou o pano do rosto e mirou-se  ao espelho. Fez uma careta ao ver os olhos inchados e  vermelhos. Mais algumas aplicações da compressa fria, e eles começaram a  voltar ao normal. Leonardo então pendurou a toalha e notou que Tamale a observava da porta.
   — Bem, gatinho, vamos ver o que há para o jantar — disse, sentindo-se mais leve e mais faminto. Agora que conseguira desabafar e  pensar com clareza,  sabia que tinha outro problema para resolver. Mas não pretendia encará-lo com o estômago vazio.
   Mal começara a examinar a geladeira quando tudo escureceu. A eletricidade tinha sido  interrompida.
   — Mas que falta de sorte! — ele murmurou,  saindo à procura de uma lanterna.
   Assim que um dos joelhos bateu na porta que separava a cozinha da área de serviço, Leonardo percebeu que estava no caminho certo. Tateou em busca da  secadora e virou-se, as mãos percorrendo a parede em frente à máquina. Parou ao encontrar a lanterna recarregável, presa à tomada.
   Acendeu-a e foi até a garagem, onde se encontrava a caixa em que guardara as luminárias. As velas, largas e altas, cabiam com perfeição nas tigelas de geléia. Logo havia doze candelabros improvisados perfilados sobre o balcão da cozinha. Ele acendeu dois, apagou a lanterna e sorriu quando as chamas amareladas iluminaram o local.
   Distribuíu alguns pela casa. Um  na entrada, outro no primeiro banheiro e quatro  na sala de estar.  As velas permaneceriam acesas por cerca de dez horas, e, como Leonardo tinha ainda quatro candelabros prontos, podia se  permitir essa extravagância. Admirou as chamas das velas e  da estufa refletidas na janela de vidro e na decoração natalina. Pareciam reluzir.
   Ainda bem que tinha um suprimento extra de lenha na  garagem. Isso significava que poderia manter a casa aquecida por muito tempo. Nesse instante, lembrou-se de que Marta, por medida de economia, não possuía madeiras secas  em estoque.
   Cinco minutos  depois, Leonardo seguia o facho de luz  da lanterna, atravessando o caminho coberto de lama que levava à residência vizinha. A situação financeira da boa senhora voltou-lhe  à mente, e isso a fez lembrar-se do outro problema que ainda precisava resolver.
   Tinha quase cinqüenta anos. Até aquele momento, imaginara que,  caso viesse  a manter algum  relacionamento amoroso, ele devia ser calmo, agradável, terno. Maduro. Jamais esperava descobrir-se capaz de apaixonar-se perdidamente. Julgara impossível amar com a mesma intensidade de um garoto de vinte anos.
   Vinte anos? Que nada! Naquela idade era muito jovem para saber o  que significava a palavra  amor.  Igualmente, aos vinte anos, não fora beijado da maneira como Fernando o fizera. Na verdade, nunca homem nenhum o provocara assim, levando-o à loucura.
Era-lhe difícil até mesmo imaginar que isso acontecera num estacionamento. Para ser sincero, não se recordava de como conseguira  vencer os primeiros dez quilômetros da distância que o separava de casa. E tudo por causa de um beijo...
   Provavelmente não se lembraria do restante do percurso se não tivesse visto, pelo retrovisor  do carro, os faróis da caminhonete de Fernando brilhando ao longe. Ele o seguira até a saída que levava à residência, e Leonardo suspeitava de que ficara parado ali até ver  as luzes da casa  serem acesas.
   "Muito bem, eu o amo", concluiu. O pensamento surgira sorrateiramente, e ele a princípio procurara ignorá-lo. Agora, porém, não havia mais como negar. Apaixonara-se loucamente. Esperou reagir à descoberta com pavor, terror... ou com um pequeno desgosto, no mínimo. Mas só conseguia sorrir. Não se sentia apavorado, terrificado  ou desgostoso. Estava assustado, mas feliz.
   Enveredou pela trilha que levava à casa de Marta, ouvindo os conselhos que o bom senso e a  autopreservação lhe davam.
O primeiro lembrou-o de Suzana, uma colega de trabalho que se divorciara havia um ano e acabara se casando com o primeiro homem  que lhe  dera atenção. Suzana admitira  com  franqueza que não o  amava, mas que aceitara o  pedido de  casamento porque,  dada sua idade, talvez não recebesse outra proposta na vida. E  odiaria ter de morrer  solteira.
   Leonardo considerou o exemplo irrelevante. O primeiro marido de Suzana  a abandonara para viver com uma mulher mais nova. Era natural, portanto, que ela se sentisse insegura.  Mas havia outra diferença nos casos de ambos. Desde o divórcio, Leonardo tivera alguns pretendentes, mas não se animara com nenhum. Será que seu subconsciente julgava que Fernando Herodes seria o último homem ou mulher a interessar-se por ele?
   Além disso, o fato de Victoria não ter vindo para o Natal, pela primeira vez em vinte e  quatro anos, fez com que encarasse a realidade de ter uma filha adulta, que saíra de casa para construir a própria vida. Não se tratava de um arranjo temporário, e sim definitivo. Seriam sempre muito ligados um ao outro, mas seus caminhos já seguiam rumos bem distintos. Não estaria ele imaginando que Fernando poderia ocupar o vazio deixado pela filha?
   Não bastassem esses pensamentos pessimistas, a vozinha íntima contava-lhe, cruel, velhas histórias de família. Sua tia-avó Rosie não se casara nem dera sinais de que gostaria de tê-lo feito.  Preferira construir uma bem-sucedida carreira, o que, no tempo dela, era mais do que uma atitude ousada. Era uma rebeldia radical. Na idade que Leonardo tinha hoje, tia Rosie finalmente fora fisgada, e por um homem que conhecera havia apenas seis semanas.
   Na família, dizia-se que chegara a hora da "grande mudança", e os parentes trocavam olhares maliciosos que, na época, ele não conseguia decifrar direito. Agora, porém, compreendia que a libido tinha leis implacáveis. Seria seu interesse por Fernando apenas uma reação hormonal, uma patética tentativa de provar a si mesmo que ainda era um homem?
   Se não tivesse estado tão ocupado, pensando que não deveria pensar na  ausência de Victoria,  provavelmente já haveria se dado conta de quão profundamente vinha se envolvendo com Fernando e se perguntado por que isso acontecia  tão depressa. Em sua idade,  essas coisas  não deveriam ocorrer devagar, sem tanto fogo ou erotismo?
   A verdade era que gostara dele no instante em  que  o conhecera. Sentira-se intensamente atraído. Isso de certa maneira explicava  por quê, no início, ficara tão furioso com Fernando Herodes. Não tivera raiva daquele homem por causa de Marta; odiara a si mesmo por descobrir-se desapontado com as primeiras atitudes que ele tomara.
   Piscou para afastar uma gota que lhe caíra na pálpebra e o tirou com impaciência ao notar que a chuva não queria cooperar.
E se Fernando a houvesse convidado para passar a noite no hotel?
Bem, talvez o mais sensato fosse dizer um enfático não, mas, para ser sincero, provavelmente teria sido incapaz da negativa. Porque  descobrira que sentia uma necessidade vital de tocar e de  ser tocado. De qualquer modo,  devia refletir antes  de fazer algo de que viesse a se arrepender o resto da vida. Nunca soubera lidar muito bem com romances; com  casos rápidos, então, seria um desastre!
  Mas não precisava pensar nisso agora, concluiu, com alívio, ao subir para o terraço de Marta.  A porta foi aberta assim que acabou de bater.
  — Quero que fique comigo até a força  voltar, Marta. E não quero ouvir  um  não  como resposta.
  — Pois não ouvirá. Estou pronta. Vamos?
  Leonardo finalmente notou que a boa senhora já calçara  as botas, vestira o sobretudo e estava prestes a deixar a  casa.
  — Vamos.
  Voltaram  pelo  mesmo  caminho  que Leonardo fizera havia pouco tempo.
  — Não é  lindo?
  — É maravilhoso — respondeu ele, compreendendo que Marta se referia à beleza da paisagem e ao silêncio do campo.
  Ergueu a lanterna por um momento, para admirar as gotas de chuva caindo  na noite escura. A temperatura estava muito baixa, mas,  sem o vento, podia-se suportá-la.  E até achá-la agradável. O facho de luz às vezes iluminava as encostas  do vale,  relevando pinheiros e zimbros.
  Marta sorriu.
  — As luminárias parecem flechas apontadas para sua casa.
  Seguindo o olhar da vizinha, Leonardo também sorriu.
  Entraram pela porta dos fundos. Em comparação ao frio  da noite, a casa pareceu quente demais. Por prevenção,  porém, Leonardo colocou mais lenha na estufa. A despeito da  escuridão, passava apenas  um pouco das sete horas.
  — Eu estava vendo o noticiário quando a luz acabou — falou Marta.  — A polícia estadual bloqueou a passagem pelo canyon.
  A notícia não surpreendeu Leonardo. Também não o assustava o fato de estarem temporariamente  isolados do mundo.
  — Eles disseram quando a tempestade vai passar?
   — O meteorologista jurou que só dura até amanhã — respondeu Marta, com ironia.
   A risada de Leonardo encobriu a discreta queixa do estômago, lembrando-o de que ainda não comera.
   — Você já jantou, Marta? Eu ia justamente...
   Interrompeu-se ao ver luzes fortes na entrada da casa. Faróis, concluiu, ao ouvir o ruído de um carro. Quando o veículo estacionou, Leonardo já se encontrava à porta.
   Para conservar o calor interno, manteve-a fechada até ver que o motorista alcançava o terraço. Já reconhecera Fernando, mas mesmo assim mostrou-se surpreso  com a visita.
   — Pensei que você tivesse ido para a casa de sua irmã, em Juiz de Fora.
   Ele  entrou na sala, e Leonardo fechou a porta em seguida.
   — Irei pela manhã. — Lançou um olhar para Marta. — Vocês estão bem? Tentei ligar, mas os telefones daqui não respondem.
   — Estamos ótimos — respondeu a velha senhora. — Como foi que convenceu a polícia a deixá-lo atravessar o canyon?
   — Disse-lhes que minha família estava aqui. E, como minha caminhonete é alta e tem tração nas quatro rodas, eles permitiram que eu passasse.
   Deu de ombros, como se ter ido até lá numa tempestade daquelas fosse natural, mas seu olhar caloroso fez Leonardo estremecer agradavelmente. Ele tentara telefonar, para verificar se eles estavam em segurança. E, por não conseguir entrar em contato,  decidira adiar a ida a Juiz de Fora para visitar a "família" que tinha  no vale.
   — Você já jantou? Eu  estava justamente...
   Mais uma vez o barulho de um veículo a interrompeu.
   — Bem que eu tinha notado faróis atrás de mim — murmurou Fernando, abrindo a porta.
   Ao lado da caminhonete, estacionava um pequeno trailer.
Momentos depois, um casal idoso descia e apresentava-se.
   — Somos os Shepherd. Walter e Estella — disse o homem, 
   — Meu nome é Fernando Herodes, e este é Leonardo — respondeu ele, a mão descansando levemente sobre o ombro de Leonardo. — E  esta  é Marta Medeiros. Mora na  casa ao lado.
   Os homens apertaram-se as mãos.
   — Garoto, não  sabe  como foi alentador ver as luzes de sua picape. Não encontrávamos ninguém fazia quilômetros!
E de repente ali estava você, como uma seta de luz, apontando-nos sua casa.
  Walter Shepherd sorriu. Leonardo percebeu que ele julgava que Fernando fosse seu irmão. Nada mais natural, uma vez que, durante as apresentações, ele lhe omitira o sobrenome.
  Marta riu do engano e então falou:
  — Pensávamos que o canyon estivesse fechado. A polícia já o reabriu?
  Estella Shepherd respondeu, numa voz parecidíssima com a do marido:
  — Estávamos indo a Muriaé, encontrar um lugar  onde passar a noite, quando a polícia recebeu um  aviso de que as condições da estrada haviam melhorado e decidiu abrir a passagem. — Deu de ombros. — Como vêem, foi alarme falso. Nada melhorou.
  — A estrada está cheia de barro — disse Walter. — Vocês se importariam se deixássemos o trailer estacionado aí  fora?
Assim, pernoitaríamos nele e prosseguiríamos viagem amanhã pela manhã.
  — Oh, mas vocês não precisam passar a noite lá. Por que não se hospedam  aqui?
  Estella e Walter  balançaram a cabeça ao mesmo tempo, em negativa.
  — Não  nos  importamos em ficar no trailer. Temos um bom aquecedor. Mas apreciaríamos usar o banheiro, se fosse possível.
  — Certamente. Por que não ficam um pouco conosco?
  — Obrigado — disse  Walter, ajudando a esposa a  tirar o casaco. — Mas acho que você terá mais companhia. Julguei ouvir o barulho de um carro.
  Era verdade. E, enquanto Marta levava os convidados para a sala de jantar, Fernando se postou junto à porta, deixando  claro que pretendia  abri-la novamente. A princípio, Leonardo achou o gesto machista e presunçoso. Afinal, podia tomar conta da casa e de si mesmo. Depois, entendeu que o advogado só tentava protegê-los. E  ficou satisfeito com isso.
  Os  recém-chegados também eram  um casal. Dessa vez, porém, bem jovem.
  — Puxa, foi ótimo ver as luzes desta casa — falou o rapaz, ajudando a mulher a subir õ degrau do terraço. — Somos Joel e Marion Dudat.
   Fernando fez as apresentações, omitindo mais uma vez o sobrenome de Leonardo, e ele lhes indicou, com um gesto, a sala de estar. Antes que pudesse segui-los, Fernando o segurou.
   — Joel e Marion... Parecido com José e Maria, não?
   — É mesmo! Sabe que eu não tinha reparado?
   — Acho melhor eu ir buscar mais lenha para a estufa.
   — Há o suficiente aqui dentro. E, caso seja preciso, tenho bastante na garagem.
   — Bom garoto — ele disse, sorrindo. — Então vou pegá-las, para alguma eventualidade. Assim não terei de sair durante a noite.
   Resignado, Leonardo o fitou. Quem conseguiria dissuadir um homem com instinto protetor? Mais do que isso, por que dissuadi-lo se estava adorando sentir-se protegido? E, a propósito, como negar o convite que  ele mesmo fizera, de passar a noite ali?
   — Está bem, então. Enquanto isso, vou preparar um  chá reforçado.
   Estavam a caminho da cozinha quando um som nada familiar os deteve. Entreolharam-se.
   — Já  temos os pastores,  que é a tradução do sobrenome Shepherd, e João e Maria...  — ele murmurou, dirigindo-se à entrada da casa. — Só faltam os anjos.
   — E são eles? — Leonardo perguntou, rindo, ao se juntar a Fernando, que abria a porta.
   — Não exatamente — ele respondeu, com um acento estranho na voz.
   — O que quer dizer com "não exatamente"?
   Sem falar nada, Fernando afastou-se um pouco,  de modo  que Leonardo pudesse ver o microônibus estacionado em frente. Quando a porta lateral se abriu, seis anjinhos, com asas e aureolas, saltaram  do veículo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário