quinta-feira, 9 de maio de 2013

Palavras Nuas

O amor não é prosa e nem poesia. Aquelas três palavras não me servem. São sonetos sem pele, versos que não ressoam, metáforas que não suam, frases que não cheiram. "Eu te amo" não diz nada, entende? Não escreva o que sentiria se acordasse comigo. Acorde comigo. Não imagine meu cheiro. Me cheire. Não fantasie meus gemidos. Me faça gemer. O amor só existe enquanto amar. 

Não me elogie a quilômetros ou horas de mim,não digite meu nome, não me telefone no meio da noite, não me convide por webcam, não quero um e-mail seu. As frases, as confusões, as lágrimas são minhas. Você tem o corpo.

Eu transito pelo mundo. Pego ônibus,  desvio de pessoas, contemplo edifícios, sento em barzinhos, folheio revistas, acho rapazes bonitos, navego por horas na internet, leio mensagens em PowerPoint, vejo desenhos e seriados. Meu físico ocupa percursos, espaços, tempos e ainda assim meus fragmentos voam pelo chão. Eu não sou uma flor, um tesouro, o por do sol. Sou só um homem, me trate como tal. Fui feito pra ser tocado, não compreendido, decifrado, poetizado.

Não sou tempestade. Sou abraço. Não sou químicaSou física. Não sou vento. Sou movimento. Não sou música. Sou reboladas. Meu corpo não é o paraíso, é um lugar. Faça de mim o seu lugar. More em mim ou seja meu vizinho. Caminhe com o áspero da sua língua em todas as minhas texturas, meus calcanhares, minhas coxas, minhas axilas, minhas nádegas, entre os dedos na minha mão, atrás da orelha, no couro cabeludo, no lábio inferior, embaixo dos mamilos.

Eu não preciso de um bilhete ou mensagem de celular, eu preciso de uma massagem nas costas, nos pés, na barriga. Eu não quero flores vermelhas ou dedicatórias em Facebook. Quero você dizendo baixinho o quanto sou gostoso. 

Não pense em mim. Me coma. Não me pondere. Me atravesse. Não me console. Me acarinhe. Não me deseje. Me deslize. Não me descreva. Me aproveite. Não me leia. Me dance. Não me pergunte. Me invada. Não me solucione. Me enxugue. Não me controle. Me conduza.

Puxe meu quadril, morda meu queixo, bagunce meus cabelos, chupe meu pau, esfregue seu peito em minhas costas, lamba a planta do meu pé, toque minha lombar, cheire minha virilha, aperte minhas vértebras, me dê a mão, respire perto de mim, me faça rir, uma omelete, um cafuné no sofá. Não sou uma floresta intocada. Sou um homem novamente virgem minutos depois que sua mão me abandona. Deguste meus cheiros, fareje meus gostos, beije minhas cores.

Não ache que consegue me abrir, me comover, me prender com apenas três palavras. Não quero ler ou saber que você me ama. Quero sentir isso. Quero tomar banho com você, ser olhado com ternura, que você se confesse entre meu pescoço e o meio das minhas pernas. Peça meu colo, abra suas pernas, para que eu penetre meu carinho, se importe comigo, ejacule seu querer sobre mim, escute meus medos, bagunce minha franja, persiga meu gozar.

Não perca a chance, não deixe pro dia seguinte. Não existo amanhã. Eu só existo dentro dos seus olhos, da sua boca, dos seus braços, na ponta dos seus dedos. Esqueça tudo que leu e ouviu sobre mim. O tempo que demora pra me fazer um texto é o suficiente pra derramá-lo sobre mim. Não me descreva, não me entenda, não diga me amar. Me ame apenas. O corpo é a única prova de amor.


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